sábado, 19 de maio de 2007

Carta dum apaixonado.

Segunda-feira, Janeiro 02, 2006

carta aqui deixada por charlie

Em primeiro lugar esta carta é escrita sem a mínima intenção de ser enviada.
Desde o primeiro instante em que te vi, toda a minha vida se alterou.
Cruzo-me contigo e tenho a alma cheia de poemas para dizer-te mas da minha boca não sai mais que um mero grunhido. A minha face, que ensaio ao espelho até me encandear com o sol que reflecte, não exprime coisa melhor um esgar idiota bem o sei.
Vejo isso nos teus olhos quando me devolves rapidamente o cumprimento e segues flutuando no teu rumo.
Sinto-me o Gregor Samsa.
Um mísero insecto.
Um prisioneiro ridículo do pesadelo de Kafka.
De carapaça rígida, perdida neste corpo incapaz de moldar a expressão à intensidade do tormento em flor que lhe consome a alma.
Sempre te procurei nas outras mulheres que se encantavam nas minhas palavras doces. Nos meus gestos suaves e no embalar divino com que as despia em poemas soltos.
Via-lhes o sol no olhar enquanto por dentro a minha alma sofria por não encontrar-te nos lábios com as quais elas se abriam ao amor por mim sonhado, nos corpos perdidos no infinito dos paraísos que lhes fazia viver ao ritmo da minha íntima infinita infelicidade.
Agora que o destino nos colocou no mesmo caminho, vejo-me impotente para te abordar e para mostrar a verdade de mim que toda a vida fingi. Sou um triste espectador de mim mesmo. Numa peça ensaiada vezes sem fim. Representada infinitamente até à perfeição mais perfeita, mas que teima em ficar muda no palco do grande existir.
Neste momento vou lendo em voz alta à medida que escrevo. Junto a mim está alguém lavada em lágrimas. Disse-lhe tudo o que queria dizer-te e ela veio comigo a caminho do Éden. Procurei o teu infinito no corpo dela. Apenas a aflorei e ficou-me o vazio de sempre.
No fundo sei que também tu vives por encontrar o além que vive nas minhas palavras sonhadas. Por encontrar esse que estás longe de supor por trás da farsa que te mostro. Do nada que vês e que esconde o tudo por que anseias.
Descobri que sou o Inferno.
O meu reino é o sofrer.
Descobri isso ainda há pouco. Sofro por não ter-te e transmito a dor no vazio que deixo às que se me entregam na ilusão da eternidade.
Sofro ainda mais ao ver-me iluminado pela tua luz e não ser capaz de sair das trevas, e iluminar-te ainda mais com a minha chama interior.
Achei-me assim Senhor neste eterno desespero.
Sei agora que me sinto bem no sofrimento de que é feita a minha vida.
Amanhã irei encontrar-te outra vez.
À hora do costume.
Dar-te ei os bons dias com a última expressão que mostraria a uma mulher.
Rir-te às com uma fugidia resposta.
Eu ficarei ardendo em renovadas chamas de miséria e sofrimento.
Elas são o conforto do meu lar...

Charlie

Um comentário:

Anônimo disse...

marcio e leila
marcio | 07.08.06 - 8:28 pm | #

Gravatar Gosto muito destas cartas

Beijo doce
{-Sutra-} | Homepage | 03.01.06 - 1:40 pm | #

Gravatar Charlie,

todinho para ti...

http:// rubrapapoila.blogspot.com...enda.html#links
papoilarubra | Homepage | 03.01.06 - 4:44 am | #

Gravatar lolita...
Para nós toda a esperança é uma palavra sem sentido.
Mais que isso, passa por insulto.
Esperar o quê?
Se todos sabemos que o nosso pleno vive dos interiores inventados nas névoas que se desfazem ao abrir dos olhos...
charlie | 02.01.06 - 11:06 pm | #

Gravatar "Há esperanças, só não para nós."

Franz Kafka

http://kunst.per.nl/linnartz/kaf...aimg/ kafka1.jpg
LolaViola | Homepage | 02.01.06 - 8:41 pm | #

Gravatar Cuanta pasion en esa cartita de amor ( como canta Niña Pastori )

Un bueno año nuevo !
Abrazo
romero | Homepage | 02.01.06 - 6:58 pm | #