sábado, 19 de maio de 2007

Carta dum suicida, para ti


Quinta-feira, Dezembro 22, 2005

carta aqui deixada por charlie

Sou um suicida.
Gosto de suicidar-me sempre depois do Solstício do Inverno.
Suicido-me porque amo a vida.
Derrubo-me em podridão e nojo de mim.
Abro-me às Primaveras que se seguirão.
A força da Eternidade em sangrias que sugo em sexo das mulheres que me querem possuir, abelhas sequiosas do meu pólen a quem retiro em êxtases absolutos e divinais doses vitais em orgasmos dos quais me alimento desde sempre.Reduzo as à mera mortalidade.
Recomeço sempre como o que sou. Um nada. O epígono da ausência.
Depois, sem que faça nada por isso dou por mim a viver no tempo que é dos outros e sempre dono de grande riqueza.
Nunca fui um primeiro homem.
Não sou das ribaltas.
O meu reino é o da penumbra.
Deixo que me vislumbrem e depois desapareço.
Fui ao longo dos tempos mais recentes Marquês de Monferrat, mas também Conde de Belamy. E ainda Senhor de Surmont e antes conde de Welldone.
Estive nas cortes da Europa mas também na tomada da Bastilha.Em Alexandria e na queda de Jerusalém. No apoio e na queda das agulhas da História.
Sei o efeito que causo.
Atrás de mim fica sempre a inquietação.
Foi a que conheci no rosto de Alexander Cagliostro, quando ele a sua esposa, a Lorenza Feliciani, me visitaram. Na altura eu teria uns duzentos anos, não me lembro bem. Mas recebi-os no meu palácio da Holsácia. O Cagliostro pedira-me uma audiência secreta. Recebi-o no meu templo interior, rodeado de serviçais com incensórios e com o peito coberto de diamantes. Disse-lhe em dois minutos tudo sobre a glória humana. Sobre os homens de Estado e sobre as gentes que repetem sempre os mesmo erros através da História. Sobre os homens como ele a quem chamei de charlatão. Disse-lhe tudo o que tinha dito a Ramses II e a Salomão. A Nabucodonosor e a Gengis Kan. A Pilatos e a Hitler. A Marco Polo e Cristóvão Colombo. Disse-lhes coisas que só poderiam ser ditas por Leonardo. Esse, o da Vinci que fui eu durante o tempo necessário.
Depois as portas fecharam-se e o casal ficou olhando para o vazio.
Em êxtase.
Tinham falado com Deus!
Nessa altura eu era o Conde de St Germain. Depois farto desse ciclo, suicidei-me.
Estive há dias vendo a minha campa. A uns disse que me retirava para os Himalaias em 1790 e que regressaria 85 anos depois. De facto voltei já sob outro nome, para incendiar a biblioteca onde quase me desvendavam.
Sou fundador do Rosa Cruz mas já tinha falado muitos séculos antes com Confucio que me perguntou dando a resposta em sabedorias Orientais.:" e o homem prudente, qual é? Aquele que conhece os outros!"
Eu respondí-lhe"Mais prudente é o que morre, a ele nunca ninguém o conhecerá.”
Morri nessa altura ao passar na grande muralha.
Na verdade não fui eu mas um desgraçado a quem roubei a roupa.
Empurrei-o da muralha e fui para a Europa.
Morri ao lado de Cristo e matei como Átila.
Agora chegou a hora de morrer outra vez.
Estou no fim dum ciclo.
Perseguem-me por toda a parte.
Preciso de encontrar alguém.
Vivo do renascer.
Por isso mando-te esta carta.
Talvez vá bater-te à porta....

Charlie

Um comentário:

Anônimo disse...

Bueno Año nuevo saludos
romero | Homepage | 28.12.05 - 7:10 pm | #

Gravatar Cá te espero!


[cada comment pertence ao seu post]
Katraponga | Homepage | 28.12.05 - 6:45 pm | #

Gravatar Que mensagens lindas, adorei! Beijos e um feliz natal.
Neusa | Homepage | 25.12.05 - 5:58 pm | #

Gravatar e bateu... não sei como, mas bateu-me a porta...

Renasce em GRANDE...eu quero ver...

Gostei muito

beijo
papoilarubra | 23.12.05 - 10:47 pm | #

Gravatar Porque ainda que o mundo
Não seja perfeito como desejaríamos
Mas cada ser humano é único
E encerra em si todo o potencial
Da humanidade…

Um Belíssimo Natal e Melhor 2006
Beijos querido Amigo e um Postal de Natal,
Raquel


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Magnífica, imensamente magnífica carta! Comoveu-me, doeu-me, atravessou a minha alma por inteiro!
Raquel V. | Homepage | 23.12.05 - 8:37 pm | #

Gravatar Meu amigo... também??
Um abraço e boas festas!
Daniel
Daniel Aladiah | Homepage | 23.12.05 - 1:42 am | #