sábado, 19 de maio de 2007

Carta do fim do mundo

Quarta-feira, Janeiro 25, 2006

carta aqui deixada por charlie

Envio-vos esta carta do fim do mundo.
Já nem me lembro de quando comecei o percurso e a procura do que veio a ser o objectivo da minha vida.
Mas que importância tem o tempo quando a vida só faz sentido perseguindo um sonho?
Encontrei finalmente o portal , e estou prestes a entrar.
Estou de repente a ver nos rostos de alguns um sobrolho levantado. Também os compreendo. Talvez melhor que possam pensar. Já tenho a garrafa preparado para meter esta carta dentro. Mal acabe de beber o último trago desta última do carregamento que trouxe para a viagem, farei o ritual. Com metade do corpo já dentro da passagem para o outro lado, deixarei um braço de fora, com a garrafa rolhada servindo de sarcófago desta missiva. Então solenemente olharei o sol e darei o salto para a Eternidade atirando a garrafa para o mundo onde vós estais condenados a viver.
Alguém há-de encontrar estas linhas a a boiar por aí.
Eu ficarei aqui, do outro lado do salto.
O fim do mundo fica curiosamente onde começa.
Tudo tem um princípio, tudo tem um fim mas quem encontra as origens de tudo vive para sempre.
Após tantos anos de viagem por todos os mares do mundo, de tantos naufrágios e desesperos, achei o que parecia ser uma fantasia mera de marinheiros tresloucados e supersticiosos.Mas a persistência é tudo quando se tem um objectivo na vida.
Levei comigo todos os mapas antigos. Cópias de viagens por um mundo que era infinitamente quadrado e plano.
Desconfiei que estava próximo há uma semana apenas. Olhei para o sol numa manhã e vi como ele nascia do outro lado do mar. Em como ele se punha onde deveria nascer. E como a lua fugia das minhas mãos, escorregadia, e como de noite as estrelas me perseguiam pela cabine e entravam comigo para os meus sonhos.
Da primeira vez ainda me assustei e corria com elas para fora do barco-Vão-se embora para a capa da noite- gritava-lhes eu. Mas depois compreendi de repente tudo e gritei a rir. Eram os sinais de que estava próximo. Atirei gritos de alegria ao ar, tão contente que estava! Consultei os mapas mais uma vez e fiz umas contas. Estava já a poucos metros.
Ali onde ninguém desconfia há um espaço invisível pouco maior que o corpo dum homem.É a porta de passagem. Quase nem se nota a não ser que se seja iniciado nestes segredos.Logo a seguir o mundo acaba e começa o precipício para onde as águas caiem.
Estou ansioso e vou fechar a garrafa com esta carta dentro e atirá-la ao mar no exacto momento em que pulo pelo portal....
Espera!
Ainda há Brandy...
Olho o sol alinhado com a passagem que me chama.
Sem tirar os olhos levo a garrafa à boca.
Deixa-me dar mais um golo...

Charlie

Um comentário:

Anônimo disse...

Carago...parece que afinal o tal fim do mundo fica um bocadinho longe...

Charlie, devolvi a garrafa ao mar, mas, dentro dela, seguiu um barquinho mágico... Se lhe puxares os "cordelinhos" com jeito... poderás regressar nele...

Anda lá que eu já não tenho o tempo todo...

Ainda nos matas, a todos, de saudades...
papoilarubra | Homepage | 03.02.06 - 12:38 am | #

Gravatar Viagem a uma outra forma de loucura... no final das contas...
O buraco negro dos que por aqui andam.

Se mais dissesse mais teria que retirar depois....

Beijo
Raquel V. | Homepage | 02.02.06 - 7:13 pm | #

Gravatar Esse tal fim do mundo, não deve ser muito longe daqui... a cartinha apenas demorou dois dias a chegar...

Já sei, já sei... o mundo é que é pequeno...

Quiseste ir... que pena...
sentirei a tua ausência...

Não te pedirei que voltes...
mas, sem ti, saberei eu ser feliz ???!!!
Até breve.
papoilarubra | 27.01.06 - 2:41 pm | #