segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Carta de descoberta.


Descobri esta carta nos recantos de mim.
Sempre desejei escrevê-la e guardara este ensejo para o dia em que me apaixonasse verdadeiramente.
Sentia os anos passar.
A loucura dos meus anseios íntimos a transformar-se a pouco e pouco de ribeiro irrequieto em lago descansando na mansidão da rotina, sem que nunca tivesse experimentado a vertigem da queda de água em cascatas loucas de paixão e carregadas de biliões de sois capturados nos infinitos arco-iris que as gotas suspensas na leveza do amor inventam.

Mordi os lábios tanta vez olhando para a lua cheia, lendo os Poetas e perguntando-me:

- Onde estás tu paixão, que se me foge a vida e não te vivo. Serão estes poemas apenas devaneios loucos ou será que alguém conseguiu sobreviver alguma vez prenhe destas loucuras?-

Arrumava os poemas entre o pó dos amores frouxos de tempos idos.
Amarelos de tão esquecidos, e seguía com as perguntas-respostas que eu próprio criava:

  • Poderá um cego de nascença alguma vez descrever as cores? Seguir em mente as fluorescências do sol esvoaçados nos caprichos duma borboleta?
    Ou imaginar a profundidade infinita dum céu povoado de milhões de estrelas?
    Saberá ele, em resumo imaginar sequer o que é a escuridão?
    Ele que sempre a conheceu nem poderá jamais descrevê-la, para isso teria de sentir a ausência da luz, a angustia da sua falta. Ver todo o mundo desaparecer no negro breu, mas para que isso acontecesse teria de ter sentido primeiro o calor da luz no seu olhar... –


Depois, sem que o esperasse e vindo do nada surgiste tu, e eu nasci.
O céu abriu-se em ferida à tua passagem pela minha vida.
Senti como a paixão faz doer. Como a luz intensa cega a quem nunca viu.
Descobri a profundidade do espaço infinito e vazio nos minutos em que não estás.
Sei agora que toda a verdade chorada pelos os poetas fica aquém do que um peito sente.
Que amar é sim e só perdidamente.
Que só ao sangrar se vê o peso do sentimento.
Inspirei.
Abri a alma e descobri-te junto à esta carta.
Afinal estiveras sempre aí.
No fundo de mim junto a ela...


Charlie

Fevereiro 09, 2006

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Intervalo para divulgar o "Prémio Blogue 5 Estrelas."

Sem que isto seja uma carta, de Nada pra mim veio esta iniciativa que me foi entregue por esta simpatia e passando o testemunho divulgo as minhas escolhas e o restante que segue.


"1. Podem participar na votação todos os bloggers que mantenham blogs ativos há mais de um mês [os outros esperem por outra ideia brilhante que alguém irá ter].
2. Cada blogger deverá referenciar cinco nomes de blogs. A cada menção corresponde um 1 voto.
3. Cada blogger só poderá votar uma vez, e deverá publicar as suas menções no seu blog [da forma que melhor desejar], enviando-as posteriormente para o seguinte e-mail: elzinhalinda@gmail.com. No e-mail, além da sua escolha, deverão indicar o link para o post onde postaram as nomeações. A data limite para a publicação e envio das votações é dia: 27/08/2007.
4. De forma a reduzir alguns constrangimentos [e desplantes], e evitar algumas cortesias desnecessárias, também são considerados votos nulos:- Os votos dos blogger(s) em si próprio(s) ou no(s) blogue(s) em que participa(m);- Os votos no blog Nada pra mim.
5. Cada blog que for indicado ou indicar, deve conter de onde veio a origem do concurso, ou seja deverão manter um link para este blog afim de que outras pessoas possam conhecer a idealizadora da idéia.No dia 31.8.2007 serão anunciados os vencedores."
(Origem em Nada pra mim )



E os meus indicados são:

1 - http://www.estudioraposa.com/
2 - http://www.aliciante.eu/aliciante/?redirect=weblog
3 - http://pracadarepublica.weblog.com.pt/
4 - p://www.fotosdanadir.blogspot.com/
5 - http://eroticidades.blogspot.com/

Parabéns e boa sorte

Carlos.

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Seguem as CARTAS SEM VALOR

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quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Teria escrito uma carta.

Teria escrito uma carta se tivesse sabido de que maneira

o poderia ter feito.

Não sabia ao certo como tinha ido parar ali. Não me lembrava de ter memórias antigas e sem saber porquê, todo o conhecimento de mim próprio cabia em poucas horas. Muito vagamente umas leves impressões de como olhara para o Sol a pôr-se antes do anoitecer que agora terminava. Umas deambulações por aqui e por ali meio perdido, e depois, sem ter noção precisa, o aparecimento naquele espaço onde agora me encontrava, e onde descansara sem saber em que sítio exacto, deixando-me envolver pelo manto suave do cansaço após ter fixado o meu olhar na beleza daquele ser que estava ali. Deitada à minha frente...

Os primeiros raios a ameaçar rebentar o horizonte, ao entrar pelos rasgos da persiana, fizeram-me despertar e inspirar fundo o puro gozo de existir.
Estava dono duma leveza inebriante, ultrapassando os limites dum corpo que nem sentia, e todo o espaço me cabia num gesto.

Olhei para um lado e para outro, mudei de posição sempre com ela na mira. Era linda, toda suavidade e maciez, um hino à feminilidade despertando todos os quereres. Atrevi a aproximar-me levemente do seu ombro, tocá-lo e saborear o suave aroma que a sua pele exalava, mas hesitei no último instante. Não sabia como ela iria reagir ao meu afago, ao meu toque, e agora que estava tão próximo dela, todo o desejo avivava, fazendo crescer a agua na boca, mas no último instante resolvi adiar por momentos o encontro com o meu desejo. Senti o calor do seu corpo e de como ela nesse mesmo momento, ao mover-se na cama, despertara do seu sono.
Afastei-me devagar de forma discreta sem que tivesse dado pela minha presença. Ali para o fundo do quarto onde fiquei olhando para ela que entretanto se levantara.
Mesmo sentindo que não tinha corpo escondi-me atrás das franjas do cortinado que estava aberto, expondo as nesgas da persiana por onde o ar fresco entrava, enquanto seguia como ela deambulava pelo quarto e expunha toda a sua nudez apetitosa aos meus instintos e apetites. As curvas do corpo, o brilhar dos olhos, o convite dos lábios húmidos, o mundo dos aromas que me chegavam aos sentidos.

Saiu e voltou depois duns minutos exalando vapores e aromas novos, adocicados. O cabelo molhado que ela massajou com uma toalha e que sujeitou depois à disciplina dum pente. Vestiu um roupão e foi para outro compartimento.
Resolvi segui-la. Agora era uma cozinha. Cheiros muito diversos enchiam-na por completo e olhando melhor para ela via agora como expunha uma orelha por entre a suave nuvem de cheiros que saíam do seu cabelo ainda húmido. Abriu uma porta e tirou um recipiente. Encostou-o à boca e de olhos fechados deleitou-se lenta e gostosamente. Foi então que me aproximei do ouvido exposto por entre a sinfonia de tons reflectidos vagamente pelo sol a nascer e que através da janela incendiavam o cabelo em doces chamas e nuanças. Cheguei-me lentamente a ela, cada vez mais próximo, até ficar a um mero nada de dar-lhe um beijo, de passear-me por ela e saborear a beleza do seu corpo....

Assustei-me pois repentinamente ela pareceu ter dado pela minha presença, rodando a cabeça com os olhos a seguir vagamente onde eu poderia estar. Não sei como ela deu por mim, pois nem eu próprio tenho noção de ocupar espaço algum.
Escondido por trás dum armário vi como ela mexeu num botão na parede.
Um milagre tomou repentinamente forma. Toda uma alegria se instalou de forma inesperada naquele recinto. Tudo ficou inundado duma luz intensa e bela. Uma verdadeira maravilha, um paraíso para os sentidos sob aquele apelo irrecusável de beleza e excelência. Todo o espaço ficou recheado dum jogo extraordinário de efeitos de cor e brilhos irreais, verdadeiros prodígios para o sentido da visão.
- Que maravilha! -pensei. Por um instante esqueci-me dela e com toda a luz no olhar desloquei-me atraído pela dança que se espalhava pelo recinto da cozinha. Por todo o lado a luz me inebriava e atraia, mas ali, num ponto que de repente descobrira, tudo era mais belo e apelativo, toda uma grandiosa sinfonia de luz a correr em nascente me chamava e dava-me corpo.
Quase que me tinha esquecido da mulher que agora parecia estar a ver-me. Levado pela minha alegria passei novamente junto a ela, e enquanto me deslocava na direcção da fonte em cascata de todo aquele fantástico apelo, olhei-a maravilhado nos olhos. Sorria-me e eu sorri para ela um mero instante antes de sentir todo o meu ser atravessado por uma forte vibração ao mesmo tempo que toda a luz se incendiava para me deixar depois mergulhado na completa escuridão sem que tivesse mais noção do meu existir...

Cá em baixo, com o pacote de leite encostado aos lábios, ela bebia a satisfação da vitória rápida sobre a incómoda mosca que desde a manhã a perseguira...