terça-feira, 27 de novembro de 2007

Ponto de vigia...


Recordações...


Todos os dias, com a mesma força que sentia da tua
presença, deixava que o mar me tomasse.
Primeiro apenas um vestígio, um mero salpico que ficava em pequenas esferas presas no que sentia serem pêlos dos braços, pele do rosto e comissuras de lábios.
Era então que fechava os olhos e que te saboreava. Língua a passar lentamente pelo lábio superior, recolhendo memórias dos teus sabores.
Mas eram apenas isso; memórias.
Há coisas que vivem em nós com a força da verdade sendo apenas ideias e lembranças vagas.
Sensações que só existem nos nossos interiores imensos.
Senti a pouco o mar encharcando os pés e eras tu que me agarravas pelos tornozelos e me puxavas para ti, enquanto me ia enterrando mais e mais na areia à medida que novamente e em ondas mansas, me lambias nos teus fluxos e refluxos.
Senti-te no sol que me mordia.
Como sempre morderas, olhos escondidos e felinos atrás do vidro escuro dos óculos de sol, emboscando o olhar assaltante e desejoso.
Por um instante, num breve relampejo de tempo, senti-te dentro de mim. Calores e aromas do teu poema em fêmea.
Relevos e saliências em perfeita união com o meu corpo...

Abri o peito em som num breve cântico à minha união com a natureza.
Uma nota apenas que me fez estremecer no puro gozo de existir.
Só um grito curto a prolongar-se no ecoar nas rochas que estavam por trás de mim, misturando-se em sinfonia com o coro quase rotineiro da terra e mar em negociação permanente...


Inspirei num sorvo profundo todo o mar e dei um pequeno

passo para me equilibrar.

Depois abri os olhos e regressei ao meu ponto de vigia.

Abri as asas e voei para o alto do mastro onde te observava na

praia desde o dia em dera por mim renascido em gaivota...



Charlie